Resgate e celebração da história feminina
“O que a história ensina é que os governos e as pessoas nunca aprendem com a história.”
Hegel
Nome feminino de origem grega, Bárbara significa “estrangeiro” ou “não-grego”, ou seja, um não-cidadão. As memórias e os vestígios da vida de mulheres exemplares - por isso mesmo, bárbaras na expressão original do nome – as incorporam à nossa memória.
Nosso ponto de partida é a história de Bárbara de Alencar, minha antepassada, brasileira do século XVIII, uma das lideranças da Revolução Pernambucana de 1817.
O recorte da investigação alcança diferentes regiões do Brasil, num arco temporal que vai do século XVI ao XX. Essas brasileiras esquecidas foram, não poucas vezes, mortas na luta pela conquistas femininas e na busca dos direitos humanos.
Sem memória, não há identidade. Na contramão dessa amnésia histórica coletiva, investigaremos, por meio de uma dimensão e linguagem artística, a participação feminina na construção da nossa cidadania. Sob uma perspectiva e linguagem contemporânea, recuperaremos nosso passado para avançar no presente.
“As Bárbaras” retira das sombras mulheres de diferentes origens e condições sociais. Algumas escravizadas, outras analfabetas; algumas indígenas, outras quilombolas. Alcançará ainda mulheres em tempos mais próximos de nós que lutaram contra a ditadura militar e pela emancipação feminina. Uma pauta indispensável, até porque muitas dessas questões ainda persistem e aguardam evolução no campo dos direitos humanos.
A revisão desse passado esquecido através da iconografia será realizada em arquivos históricos, buscando imagens de época somadas a novos registros, explorando caminhos imagéticos em viagens aos locais relacionados às personagens, com captação em fotografia e em vídeo.
O resultado, editado para compor tanto uma exposição quanto um livro-arte, é dirigido a um amplo público, do apreciador das artes visuais ao acadêmico e escolar.
As Bárbaras, entre o silêncio e a história
Um dos traços mais antigos e distintivos da formação do povo brasileiro é a tradição patriarcal, que, historicamente, subordinou as mulheres ao mando dos homens. Entretanto, as mulheres tiveram um papel fundamental no processo de expansão do povoamento mestiço do Brasil, embora muitas vezes dominadas e vitimadas pela arbitrariedade masculina no uso da violência, principalmente contra índias e africanas escravizadas.
Sob a força da cruz e da espada, mulheres de diversas raças e credos foram fundamentais para a construção da nação. Porém, ao longo do tempo, suas experiências vividas foram muitas vezes perdidas, esquecidas e invisibilizadas nas suas práticas cotidianas e nas suas múltiplas formas de resistência de ação social e política.
Desde o século XVI até pelo menos ao fim do século XIX, prevaleceu no Brasil escravocrata uma sociedade hierarquizada, excludente e patriarcal, ordenada pelas leis da Igreja Católica, que estava intrinsecamente ligada à esfera do poder público e do Estado.
A mulher brasileira do tempo presente herdou um passado autoritário, de submissão e de violência nas relações de gênero, contra as quais ainda luta na vida privada e pública, no âmbito da casa e da família, na política e na defesa da democracia e dos direitos humanos.
As Bárbaras é um ensaio em linguagem fotográfica, que tem a proposta de evocar alguns dos mais emblemáticos perfis femininos postos à parte em nossa história, dos primórdios da colonização ao século XX. Trata-se de um recorte de um conjunto de quarenta personagens femininos silenciados e obliterados pelas narrativas oficiais. São mulheres índias, negras, mestiças, brancas, livres, escravizadas, ricas, desvalidas, de religiosidade cristã, judaica ou africana, nascidas ou não no Brasil, mas que aqui viveram e lutaram para superar, de alguma forma, os limites impostos pela ordem patriarcal, pela violência da escravidão, da ditadura, da pobreza e das injustiças sociais. A ideia é também resgatar outras biografias de suas interpretações mais corriqueiras, situando-as em novos contextos ressignificados.
Em As Bárbaras, Cláudia Jaguaribe recompõe artisticamente legados dispersos, vozes perdidas, estratos reais ou mitológicos de mulheres brasileiras que figuraram na nossa história do passado e do presente, através da composição de imagens iconográficas alusivas às suas memórias, aos seus cotidianos e às suas lutas individuais ou coletivas.
Maria Eduarda Marques
Pesquisadora e Historiadora
Laudelina de Campos Melo
Dinalva Oliveira
Dandara dos Palmares
Madalena Paraguaçu
Ana Neri
Algumas Personagens
A maioria das mulheres pesquisadas nasceram no Brasil; no entanto, algumas vieram da África e da Europa, mas, aos seus tempos, foram atuantes na história brasileira. A maioria dos perfis biográficos escolhidos são de mulheres pouco reconhecidas ou completamente desconhecidas do grande público. Assim, compusemos um mosaico feito de memórias de mulheres que construíram a nossa história.
Catarina Paraguaçu 1503 - 1583
Branca Dias 1515 - 1589
Brites de Albuquerque 1517 - 1584
Ingaí 1535
Francisca Luís ? - 1550
Ana Roiz ? - 1593
Madalena Caramuru Séc XVI
Aqualtune Séc XVI
Acotirene Séc XVI
Dandara dos Palmares 1654 - 1694
Clara Camarão Séc XVII
Tereza de Benguela Séc XVIII
Rosa Egipcíaca 1719 - 1771
Anastácia Princesa Bantu 1740
Hipólita Jacinta 1748 - 1828
Bárbara Heliodora 1759 - 1819
Joana Angélica 1761 - 1822
Bárbara Alencar 1767 - 1837
Maria Quitéria 1792 - 1853
Maria Leopoldina 1797 - 1826
Ana Neri 1814 - 1880
Maria Filipa ? - 1873
Anita Garibaldi 1821 - 1849
Maria Firmina dos Reis 1825 - 1917
Francisca Senhorinha da Motta Diniz 1834 - 1910
Narcisa Amália de Campos 1852 - 1924
Alice Tibiriçá 1886 - 1950
Antonieta de Barros 1901 - 1952
Doninha do Tanque Novo 1904 - 1973
Laudelina de Campos Melo 1904 - 1991
Santa Dica 1906 - 1970
Irmã Cleusa Rody Coelho 1933 - 1985
Margarida Alves 1933 - 1983
Alceri Maria Gomes da Silva 1943 - 1970
Iara Iavelberg 1944 - 1971
Ieda Santos 1945 - 1974
Dinalva Oliveira 1945 - 1974
Roseli Nunes 1954 - 1987
Pronac
243472
Claudia Jaguaribe
Limiar Produções Artísticas
Contrapartida
Produção da exposição As Bárbaras, incluindo fotografias e obras de tamanhos e materiais variados, um vídeo e um livro/catálogo, referente aos desdobramentos da pesquisa;
Disponibilização de versão digital gratuita do livro/catalogo no site da artista;
Realizar um programa educativo apresentado por monitores treinados para visitas espontâneas e para grupos agendados, em todas suas localidades. Oficina presencial e online;
Doação de um conjunto de 15 retratos das personagens;
Publicações em redes sociais com a marca do patrocinador, mídia expontânea na imprensa nacional e internacional;